quinta-feira, 10 de março de 2011

2. MEUS 18 ANOS

MEUS  18  ANOS” – BBL-159 – RCA Victor
gravado: Setembro 1963; lançado no Brasil: Abril 1964.

1.  Datemi un martello [If I had a hammer] Lee Hays-Pete Seeger; Ital.ws.: Bardotti
2.  Non è facile avere 18 anni [Bernabini]
3.  Somigli ad un’ oca [Your baby’s gone surfin’] Duane Eddy-Hazlewood; Migliacci
4.  Ti vorrei parlare [Carlo Alberto Rossi & Roby Ferrante]
5.  Si fossi un uomo [Wenn ich ein Junge wär’] Buchholz-Loose-Müller; C. Rossi
6.  Quando sogno [On the sunny side of the street] Jimmy McHugh; v.: Gagis

1.  Che m’importa del mondo [Franco Migliacci-Luis Enriquez]
2.  Son finite le vacanze [Carlo Rossi-Pelleschi]
3.  Bianco natale [White Christmas] Irving Berlin; v.: Devilli
4.  Non c’è un pò di pentimento [Gianni Meccia]
5.  Sotto il francobollo [Carlo Rossi-Luis Enriquez]
6.  Auguri a te [Carlo Rossi-Luis Enriquez]

Segundo LP de Rita Pavone, lançado logo depois do Carnaval de ’64 terminou o ano como mais vendido no Brasil, seguido pelo ‘Fino da Bossa’ da RGE.

DATEMI UN MARTELLO’, uma versão ‘reconstruída’ de ‘If I had a hammer’, composta por Lee Hays e Pete Seeger em 1949, e gravada pelos Weavers, o maior conjunto de ‘folk music’ de então.  A música conclamava à liberdade e igualdade de direitos civis; o martelo aí, representando o ‘martelo’ que os juízes usam nos tribunais anglo-americanos. Não fêz muito sucesso, pois o movimento progressista estava em refluxo devido ao McCarthyismo reacionário.  Peter, Paul & Mary a re-gravaram em Agosto 1962, ficando entre as 10 mais da Billboard, e tornando-se quase que um hino [depois de “We shall overcome”] da luta pelos  Direitos Civis dos Negros Norte-americanos. Martin Luther King liderou uma Marcha sobre Washington, que mobilizou mais de 1 milhão de pessoas em 1963, fazendo  seu famoso discurso ‘I have a dream’ [Eu tenho um sonho], que fêz [indiretamente] o presidente Lyndon Johnson assinar a Lei dos Direitos Civis.

Sergio Bardotti, um novo ‘paroliere’[letrista] contratado da RCA Italiana, resolveu ‘brincar’ com a musica de Hays & Seeger, fazendo duas versões para Rita, que as gravou com o mesmo play-back.  A versão lançada no mercado foi direto ao 1º lugar, e conta a história de uma garotinha que está num bailinho, o qual ela está detestando; um baile chato, onde não tocam rock, surf ou hully-gully, mas só musica lenta. Ela se rebela contra tal quadradice, pedindo um martelo, para quebrar a cabeça de todos e destruir geral.  Um convite à rebeldia imediata, e não aquela política. É dividida em quatro partes, e termina num paroxismo de total violência e destruição, com um grito que ficou famoso por atormentar os ‘mais velhos’;  tanto que os adultos mais ‘rancorosos’ apelidaram Rita Pavone de Rita PAVOR-NE.

NON È FACILE AVERE 18 ANNI” é uma balada lenta, que se tocasse no baile descrito na 1ª faixa, Rita, fatalmente destruiria com uma martelada bem dada.  No entanto deu título ao seu 2º album na Italia. No Brasil a RCA ‘traduziu’ para ‘Meus 18 anos’.

SOMIGLI AD UN’ OCA” [Você se parece a um ganso] é mais uma versão. Esse é o LP de Rita com mais versões [5]; perfazendo quase metade do album. Esse rock frenético é versão de ‘Your baby’s gone surfin’” [Seu brotinho foi surfar] do guitarrista Duanne Eddy e do cantor-compositor Lee Hazlewood, que ficaria famoso por gravar varios discos com Nancy Sinatra [‘These boots are made for walkin’, ‘Summer wine’, ‘Jackson’ etc.]. Mais uma briga aí:  o namorado de Rita diz que ela se parece a um ganso; e ela, lógicamente, rebate a acusação com vigor [e gritaria], dizendo que, além de ganso, ele se parece a um macaco comendo banana. Isso tudo em altos brados.  No finalzinho, Rita berra um monólogo, para pavor dos adultos já aludidos antes.  Essa gravação foi incluida no 1º filme da Pavone, ‘Rita, la figlia americana’, no qual ela contracenou com Totò.

TI VORREI PARLARE’ [Gostaria de falar com você] é uma linda balada sobre as inadequações e inibições tão comuns aos adolescentes.  Musica do jovem ‘cantautore’ [cantor-compositor] Roby Ferrante, que já tinha escrito ‘Alla mia età’ [Na minha idade – outro conto adolescente], e se tornaria famoso em 1964, dividindo a canção ‘Ogni volta’, com Paul Anka, no palco do Festival di San Remo. A letra é de Carlo Alberto Rossi, que assina mais quatro musicas neste LP, além de uma versão.  N.B.:  a faixa de ‘Ti vorrei parlare’ que aparece nesse micro-sulco está cortada pela metade.  Não sei a razão de tal vandalismo cultural.  Se v. quiser ouvir a gravação inteira, terá que ter o compacto-simples ‘Scrivi!’, no qual ela aparece como lado B.

SI FOSSI UN UOMO” [Wenn ich ein Junge wär’] [Se eu fosse homem] é a 3ª  versão; agora de um sucesso que a própria Pintadinha gravou na Alemanha; musica feita especialmente para ela por Heinz Buchholz & Günter Loose, e arranjada pelo maestro Werner Müller, que era um tipo de Ray Conniff da Baviera. Rita fala das vantagens de ser homem em relação a ser mulher:  poder chegar em casa tarde, sem ouvir a mãe gritar; pertencer a um clube de futebol e poder tornar-se um centro-avante internacional; poder sair de motocicleta por aí, etc. Só que no final, Rita declara que ser ‘abraçada e beijada pelo namorado’ compensa ser mulher. É uma atitude corajosa de Rita ter gravado uma musica com um titulo desse: ‘Que formidável se eu fosse homem’, pois Rita era criticada em alguns lugares por ser muito ‘masculinizada’;  é como se a Maria Bethânia gravasse ‘Paraiba, masculina, mulher-macho, sim senhor...”

QUANDO SOGNO” [On the sunny side of the street] é quase que um ‘bis’ da 'profanação' de 'If I had a hammer'. Aqui a ‘dessecração’ foi feita em cima de um dos maiores ‘standards’ do jazz Yankee: ‘On the sunny side of the street’ [Do lado ensolarado da rua], gravado por Louis Armstrong, Bing Crosby e o resto dos U.S.A.  A letra se resume num sonho que a Rita tem quando dorme... só pensa em namorar o brotinho... e de-repente começa a berrar seu grito-de-guerra, que no outono europeu de 1963 era o Hully-Gully... uma das muitas coqueluches dançantes da época. Para aqueles que criticavam Rita por gritar [‘urlare’, em Italiano]; essa faixa é um prato cheio, pois Rita berra até os últimos decibéis;  além de ir subindo de tom até as alturas do impossível. Hu, hully, hully-gu, hully-gully.  O acomponhamento é rock, rock, rock, com muita guitarra elétrica. O resultado é desconsertantemente positivo.  Rita parecia o rei Midas em 1963: tudo que tocava virava ouro.

CHE M’IMPORTA DEL MONDO” é umas das mais belas melodias gravadas por Rita; feita especialmente para ela pelo maestro Luis Enriquez Balacov e o ‘paroliere’ Franco Migliacci, o mesmo de ‘Volare’.  Rita canta em ‘double-track’, ou seja, canta junto com si mesma. ‘Fox-balada’ altamente dançável, principalmente quando tocada em stereo, com marcação forte do rítmo, como se fosse uma gravação da orquestra de Bert Kaempfert. Mais um ‘tento’ para Luis Enriquez, o gênio da Via Tiburtina km. 12 [estudios da RCA Italiana]. Rita aparece cantando-a no filme ‘La noia’, estrelado por Bette Davis, Horst Buchholz e Catherine Spaak.

SON FINITE LE VACANZE”, um rock-pauleira, com um solo de saxofone de fazer inveja ao Manito [the Clevers] e um solo de guitarra de fazer inveja aos Shadows. ‘Acabaram-se as férias’ conta a historia de uma garota, talvez filha de operários, que tem que passar as férias deVerão com a família, numa daquelas colônias de férias construidas pela Fiat ou qq. grande corporação de então.  Só que a menina está de namoro com um ragazzo [rapaz] que vai ficar na cidade [que se esvazia como em cidade fantasma do velho oeste americano]... a garota só pensa na hora de voltar e ‘perde’ suas férias, ficando emburrada em seu quarto.

BIANCO NATALE’, versão italiana da musica natalina de maior sucesso de todos os tempos. A gravação original, “White Christmas”, é de Bing Crosby, para o filme de mesmo nome, rodado em 1942, e desde então ‘Natal Branco’, entra na parada todo Dezembro.  Rita conseguiu o impossível:  gravou melhor que todos.  O arranjo de Luis Enriquez é o segrêdo do sucesso; o ritmo é intrigante; as cordas enlevantes;  o coral, cantando em Inglês no interlúdio, é angelical;  e o final apoteótico, logo seguido de um: ‘non soffrire più uh uh uh uh’, faz com que a versão de Rita seja a melhor 'resolvida', bem diferente do original de Irving Berlin, que parece não ter um final 'apropriado'. Aliás, é irônico que Berlin, sendo Judeu, tenha escrito o maior sucesso da Cristandade de todos os tempos. Equivaleria ao Padre Marcelo escrever o maior sucesso do Ramadan, dos Mulçumanos, ou do Yom Kippur, dos Judeus.

NON C’È UN PÒ DI PENTIMENTO” [Você não se arrepende nunca], escrito pelo ótimo Gianni Meccia, de ‘Pssi pssi bao ba’ e ‘La cabina’, entre outras, é um rock muito bem balançado, com acompanhamento de muitas guitarras elétricas, bem ao estílo de 1963-1964.

SOTTO IL FRANCOBOLLO” [Debaixo do sêlo] é outro rock bem bom.  Na verdade Luis Enriquez simplesmente ‘chupou’ a gravação de ‘Ce petite jeu', que Rita tinha gravado para o mercado francês. Ele aproveitou o mesmo ‘play-back’, e Carlo Alberto Rossi colocou uma letra original. Uma letra inspirada, já que fala da historinha de uma menina que escreve para o rapaz que ela gosta, mas não quer que ninguem saiba que existe um namôro entre os dois.  Então ela combina com o mancebo, que ‘debaixo do sêlo’ escreverá um monte de ‘frases de amor’; mas que na carta, propriamente dita, eles tem que mostrar que ‘siamo amici e nulla più’ [que somos amigos e nada mais]. Uma idéia bem original.

AUGURI A TE” [Parabéns a você] é a derradeira faixa de um LP feito na terra-dos-sonhos.  Quando se termina de ouvir esse album, a gente se sente como alguem que viajou para o mundo da fantasia.  O maestro argentino Enriquez apresenta aqui uma melodia linda;  o coral das 4+4 de Nora Orlandi um canto triste; os violinos anunciam o final de disco, e a letra do Carlo Rossi diz: “Parabéns a você do mais profundo do meu coração.  Todas as coisas que o mundo pode te dar, todas as coisas, que, no mundo você sonhou, eu as desejo a você, eu as sonho para você, meu querido, meu amor...”  A faixa termina em ‘fade-out’... e o LP termina, com você querendo mais... só que esse ‘mais’ não viria nunca mais, pois todos os albuns subseqüentes de Rita não tiveram a coerência deste aqui.  A não ser, talvez, ‘Gian Burrasca’ [1964], mas daí é um LP ‘temático’, ou de ‘trilha-sonora’, ao passo que ‘Meus 18 anos’ é um LP de ‘carreira’... e que carreira!



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